PARA FALAR DE CORES



Trabalho em uma escola pública da rede estadual de ensino do Rio de Janeiro. Meus alunos, em sua grande maioria, são filhos de assalariados, trabalhadores rurais ou informais. Em minha cidade, Bom Jesus do Itabapoana – RJ, não diferente do restante do país, muitas políticas públicas não saem do papel, esquecidas nos gabinetes de políticos que só as criam para arrecadar fundos, esquecendo de colocá-las em prática e, por isso, maquiando resultados.
Enquanto isso, os menos afortunados continuam com seus subempregos, recebendo aquilo que os patrões querem pagar e se submetendo mansamente àqueles que detém o “poder”. Eles são muito silenciosos!
Mas é preciso dizer que temos uma praça. Não temos acesso a exames ou consultas; não temos material suficiente para oferecer um ensino de melhor qualidade; sequer temos salários decentes, mas é necessário dizer que temos uma praça que custou aos cofres públicos a ínfima (melhor seria dizer infame) quantia de 2 milhões de reais, dinheiro gasto em pedrinhas para o piso, iluminação e um chafariz, modesto, mas que possui água.
Enquanto isso, os menos afortunados não possuem saneamento básico, não conseguem pagar a conta de luz, mas, afinal, eles são tão silenciosos!
Muitos alunos abandonam o sistema educacional, por falta de condições de ir à aula, por necessitarem trabalhar, por falta de estímulo do sistema, até mesmo por falta de roupa ou calçado. Alguns permanecem apenas pela merenda, e olhe que ela nem é essas coisas.
Enquanto isso, os mais afortunados pagam mensalidades em escolas privadas, afinal, querem ver seus filhos em uma universidade pública quando chegar o momento. Estes não fazem nenhuma questão de se manter em silêncio!
Penso que estes tantos excluídos não estão calados, ao contrário, nos gritam sua desigualdade a todo momento. Nós é que, surdos e muitas vezes cegos, não exigimos que as políticas públicas passem a ser mais do que projetos e continuamos fingindo que práticas delituosas e ultrajantes, que classificam seres humanos de acordo com a cor de sua pele, seu gênero ou condição financeira, não existem em nosso cotidiano.
Mesmo crendo ser uma árdua missão, cabe a nós, educadores, tratar de temas como este em nossas aulas, sensibilizando nossos alunos para que neguem sempre tais práticas e as repudiem, fazendo cair por terra qualquer tipo de exclusão ou discriminação.
Somente assim, em lugar de um “Brasil negro” e um “Brasil branco”, poderemos ter um país com todas as cores que pudermos pintar.

Maria Lucia Padilha

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A TÍTULO DE APRESENTAÇÃO


Somos um grupo que possui como interesse comum a busca por conhecimento e que, graças à UFES, conseguiu se reunir no Curso de Formação em Gestão de Políticas Públicas em Gênero e Raça.

A título de apresentação, deixamos uma reflexão de Boaventura Sousa Santos, que vem ao encontro do nosso pensamento sobre a desigualdade de gênero e raça.

"Temos o direito a ser iguais sempre que a diferença nos inferioriza; temos o direito a ser diferentes sempre que a igualdade nos descaracteriza".




Grupo 02 - Polo de Bom Jesus do Norte-ES


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