O Particular da Vida

Por: Wosney Ramos de Souza



Que graça teria se todos fossem iguais? Já parou pra imaginar se todos nós gostássemos da cor preta? O mundo seria uma "coisa" sem graça e sem cor, não é mesmo? Esse é exatamente o detalhe que devemos pensar: todos os seres humanos são dotados da capacidade de expressar as suas vontades, desejos, sonhos e anseios.

Muito tem se falado na atualidade sobre em preservar a identidade negra, da valorização do profissional negro, etc. Mas o que é essa preservação? Qual o propósito, a finalidade de tal ação?

Como todos sabemos, o Brasil é um país que há muito tempo atrás viveu tempos onde a escravidão oprimiam os negros, causava dor e sofrimento à muitos. Hoje, percebe-se falar muito em "recuperar" o tempo perdido dos negros desde os tempos da escravatura. Bom, vamos pensar: se for pra recuperar o tempo perdido, não sei os outros negros, mas gostaria de "receber esse tempo" em forma monetária, com juros e correção monetária de preferência, porque isso sim ajudaria diretamente a minha vida. Com o dinheiro, poderíamos comprar casas boas, carros, motos, fazendas, etc(observem o plural). Mas o engraçado disso tudo, é que dessa maneira ninguém quer "ajudar". Todos batem na mesma tecla, nas mesmas discussões, rotulando a necessidade do "negro" em ser alavancado para uma universidade, por exemplo.

Não discuto que exista a discriminação, que existam a falta de oportunidades. Mas o que a nossa sociedade necessita enxergar é que as OPORTUNIDADES devem ser para TODOS. Como sociedade, devemos sempre pensar que somos seres diferentes, particulares dentro de sua realidade, mas que devemos conviver em unidade para sobrevivência de nossa espécie (biologicamente falando!).

Outro detalhe que devemos deixar para trás é a visão de fazer com que o negro, o branco, o asiático ou seja quem for, se ajuste às características que, até então, são conhecidas da sua raça, tais que visam agradar à uma minoria para "manter" viva a cultura. Quem faz a cultura são as próprias pessoas. Quem vive a cultura é a sociedade. Não cabe à sociedade ditar regras de manter ou não hábitos para fazer que a história se perpetue. Somos seres particulares em vontades e características culturais. Para tanto, devemos viver como tais, para que assim o mundo não caia na "mesmisse" onde todos vivem em seus mundinhos étnicos, se achando melhores ou piores que o outro.

Para complementar, cito um trecho de uma carta de uma mulher negra mostrando o seu ponto de vista sobre a vida "negra" no Brasil:


Uma visão negra a respeito da situação do negro no Brasil



A primeira vez que eu me lembro que senti o racismo foi aos 3 anos de idade, na escola, no dia em que minha mãe colocou uma banana em minha lancheira/merendeira e os coleguinhas ao me verem comendo me chamaram de macaca. Outras crianças também haviam levado banana, mas eram brancas, e branco comendo banana não é macaco.
Logo cedo aprendi que o preconceito vem de casa, só pode ser….
Na primeira série (hoje em dia nem sei dizer qual série, já que tudo mudou), quando tinha 7 anos de idade, fui convidada para participar da peça de final de ano, o meu papel seria o da Zazá, única negra que aparecia na cartilha que a escola utilizava, assim como eu era a única negra na minha sala.
Não participei da peça… Zazá era a doméstica…..
Na pre-adolescência estudando em Ipanema em escola particular (sempre estudei em escola particular) quando tinha algum curso ou aula extra depois do horário normal do colégio, tinha que comer em algum lugar, geralmente no McDonald’s e geralmente na hora de pedir ou pagar o caixa olhava desconfiado como se eu não tivesse dinheiro, algumas vezes perguntava a coleguinha branca se ela iria pagar.
Durante um tempo pensei que tivesse “cara de pobre”… não…. era a cor que carrego na pele …
Certa vez fui convidada a me retirar da sala de aula, quando perguntei porque apenas eu se havia um grupo de amigos rindo a resposta foi que eu estava sujando o ambiente.
A cor da minha pele não era limpa o suficiente…
Na pré-adolescência minha mãe nos ensinou uma dura lição, que na maioria das vezes não ia ter problema ser amiga(o) de brancos, alguns pais faziam mais perguntas e ficavam mais de olho na criança negra presente na casa, mas depois de um tempo via que não era pobre, não ia roubar nada e tudo bem.
Mas minha mãe também ensinou que para muitos ser amigo de seus filhos pode, entrar para a família não pode, não é opção, seja amiga do meu filho mas não namore o meu filho…
Minha amiga apaixonou-se por um negro na adolescência e ao contar para sua mãe, na minha presença, a mãe colocou as mãos na cabeça e disse: “Fulana, não faça isso… coitado dos seusfilhos”.
Pensei com meus botões: “coitada de mim?”
Uns 9 anos atrás, voltando de uma festa com o meu marido, estávamos em um táxi, fomos parados em uma blitz, a única que teve os pertences revistados fui eu, no final quando retornamos para dentro do táxi foi que me dei conta do ocorrido.
O taxista nos informou que haviam perguntado qual era da “morena”com o gringo, passei por prostituta, única e exclusivamente devido a cor que carrego na pele (meu marido é brasileiro)….
Trabalhei durante três anos em cia. aérea, viajava de primeira classe a todo momento, no Brasil, quando as pessoas entravam e me viam sentada na primeira classe com o meu marido, logo diziam em alto e bom tom:”Essa aí se deu bem”( nunca imaginavam que quem tinha as passagens era eu).
Na época em que começaram a ensinar na escola sobre a escravidão eu, sendo a única aluna negra na sala de aula, sempre me sentia mal, sempre sofria com os risinhos e brincadeirinhas, minha sorte foi ser “bocuda” e não levar desaforo para casa, mas por outro lado, confirmava o que muitos achavam “que negro é barraqueiro”, tinha de ser para sobreviver.
Na minha infância não havia bonecas negras no Brasil, todas eram brancas.Hoje em dia há bonecas negras no Brasil, mas admito que mesmo tentando comprar para dar de presente para crianças que conheço, a maioria das bonecas negras são feias, parece que feitas por obrigação, fora uma barbie que vi outro dia e parecia mais uma garota de programa.
A maioria dos negros sofrem diariamente com o racismo.
A maioria dos negros moram em condições de pobreza /ou miséria.
Dificilmente encontro um porteiro negro nos prédios que moro/morei ou frequento.
Dificilmente encontro vendedoras negras nas lojas nos Shoppings que frequento.
Geralmente os seguranças de prédios, shows, shoppings, etc, são negros.
Geralmente os meninos que fazendo malabares com limão no sinal de trânsito são negros.
Minha visão sobre as cotas? Da forma que foram feitas está errado, é necessário fazer algo e vamos ser sinceros e parar de falar apenas no ensino de base que deveria ser melhor, pois não será tao cedo e ninguém está afim de esperar mais 30 anos para a situação do negro no Brasil mudar.
O governo tinha que ter cursos preparatórios de pré-vestibular, gratuito específicos para jovens carentes, de preferência perto das comunidades onde moram. Simples assim, curso intensivo, preparatório para ingressarem na Universidade.
FONTE: http://30ealguns.com.br/2008/02/uma-visao-negra-a-respeito-da-situacao-do-negro-no-brasil/

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A TÍTULO DE APRESENTAÇÃO


Somos um grupo que possui como interesse comum a busca por conhecimento e que, graças à UFES, conseguiu se reunir no Curso de Formação em Gestão de Políticas Públicas em Gênero e Raça.

A título de apresentação, deixamos uma reflexão de Boaventura Sousa Santos, que vem ao encontro do nosso pensamento sobre a desigualdade de gênero e raça.

"Temos o direito a ser iguais sempre que a diferença nos inferioriza; temos o direito a ser diferentes sempre que a igualdade nos descaracteriza".




Grupo 02 - Polo de Bom Jesus do Norte-ES


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